

(Foto: Sérgio Santoian)
Nossa incredulidade é justificada: nós, artistas, sabemos que as reflexões da arte ajudam as pessoas a se orientar em meio ao mundo (quem nunca se sentiu transformado depois de ler um livro, ver um filme ou assistir a uma peça que atire a primeira pedra). Sabemos que os questionamentos levantados por artistas impedem o declínio das nossas inestimáveis liberdades individuais em meio à tirania dos regimes autoritários (e por isso todas as ditaduras da História, de esquerda e de direita igualmente, censuraram e mataram artistas). Sabemos que o mercado artístico devolve mais dinheiro aos cofres públicos do que pegou emprestado (um estudo da FGV calculou que, a cada R$1 utilizado pela Lei Rouanet, R$1,59 retorna ao governo). Nós sabemos – mas nem todos sabem.
Se a crença de que a arte é algo supérfluo e inútil persiste em grande escala, não é apenas pela manipulação eleitoreira das muitas insatisfações da população, por parte de figuras poderosas que desonestamente buscam fazer da arte bode expiatório, usando a tática da desinformação a fim de simultaneamente desacreditar as vozes que pensam diferente deles e se arvorar em defensores imaculados da coisa pública. A responsabilidade também é de todos nós, artistas e amantes da arte, que muitas vezes tomamos como certa a conclusão de que seu valor é algo óbvio e corriqueiro. Não é – e nunca foi. Geração após geração, regime político após regime político, ideologia após ideologia, a arte precisa continuamente relembrar ao povo suas muitas funções essenciais, rejeitando quaisquer bolhas ideológicas e falando de temas que mobilizem e comovam. Ofereçamos, contra a desinformação e a mentira, a informação e a verdade. Se formos bem-sucedidos, quem sabe nossa presente tragédia se torne a comédia do porvir – e à frase “a arte não serve pra nada” não mais se siga a estupefação de incredulidade, mas sim uma sonora e coletiva gargalhada.
Gabriel Falcão é ator.
Está em cartaz com “Meu Destino É Ser Star” em São Paulo