Ary Fontoura (de “Marido de Mulher Feia Tem Raiva de Feriado”) é um ator relegado ao ostracismo na peça “O Comediante”. Na trama, ele interpreta Walter Delon, um senhor que não trabalha há mais de duas décadas, mas vive em um casarão e acredita ainda ser um ícone popular. Sua governanta (Ângela Rebello, de “O Ato – Variações Freudianas 2”) compra flores semanalmente, fingindo terem sido enviadas por fãs, e seu agente (Gustavo Artiddorro) inventa uma série de convites e ofertas de papeis que, obviamente, nunca vingam. Às sextas, dão festas de gala, aparentemente para ninguém. O personagem cria para si e para os que estão ao seu redor um mundo paralelo, alheio à realidade da porta para fora. No mínimo, intrigante.
O texto é de Joseph Meyer e faz uma crítica à indústria cultural e ao culto à celebridade, com diversas referências teatrais e cinematográficas. O contraponto é a presença da jornalista interpretada por Carol Loback (de “Vou Deixar o Amor Pra Outra Vida”), que questiona todo o quadro quando vai fazer uma entrevista arranjada com o ator. Ela é praticamente impedida de sair da casa ao ser convencida a escrever uma biografia do artista esquecido, e começa a desvendar os segredos escondidos por aquele mundo de fantasia. O roteiro é bem encaminhado, mas deixa a desejar no fim, que merecia uma marcação mais enfática.
Ary Fontoura escreve texto sobre José Wilker
A direção do espetáculo era de José Wilker (de “Rain Man”) e, após sua morte, foi assumida por Anderson Cunha (de “Tambores na Noite”), que tentou manter a concepção anterior. É um trabalho perspicaz, que se vale também da boa atuação da atriz Ângela Rebello, o destaque do elenco. Intencionalmente, acredita-se, as cenas remetem à teledramaturgia em alguns momentos, como um novelão de cenário único.
Outros destaques são os figurinos de Marília Carneiro (principalmente os usados pela personagem da jornalista, que geram cobiça na plateia feminina), o cenário de José Dias (nada menos que impecável) e a iluminação do onipresente Maneco Quinderé. A temporada da peça vai até 28 de setembro no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, com sessões de quinta a sábado às 21h30 e domingo às 20h. Os ingressos custam R$ 80 na quinta e na sexta e R$ 90 no sábado e no domingo.
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.