270 mil. Esse é o número de vezes que a discussão entre o diretor Claudio Botelho e a atriz Soraya Ravenle foi ouvida na Internet nas primeiras 24 horas. O áudio, gravado nos bastidores da apresentação de “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” em Belo Horizonte, foi vazado pelo Mídia Ninja e se tornou centro de uma discussão política no fim de semana. A gravação, compartilhada centenas de vezes na Internet, foi feita sem conhecimento dos envolvidos, logo após a interrupção da peça por parte da plateia revoltada com as críticas de Claudio ao governo.
Em determinado momento do espetáculo, ele disse que, na cidade fictícia da trama, “havia um ex-presidente ladrão e uma presidente esperando o impeachment”. O público, fã da obra de Chico Buarque, que é um conhecido aliado político de esquerda, não perdoou. Parte dos espectadores vaiou, se levantou, gritou “não vai ter golpe!” e iniciou uma discussão incontrolável com Claudio Botelho. A sessão foi suspendida, e a apresentação do dia seguinte imediatamente cancelada “primando pela segurança de todos”.
O que podia ter sido só um confronto de ideologias políticas, que culminou no cancelamento das sessões, se agravou com o vazamento do áudio feito no camarim. Foi essa gravação que catapultou o assunto para o noticiário nacional, por causa do teor do seu conteúdo. Logo no início, o diretor dispara: “o ator que está em cena é um rei, não pode ser peitado por um negro, por um filho da **** que está na plateia”. A partir disso, pipocaram acusações de racismo, que é crime no país.
Nesta terça (22/3), já passa de 335 mil streamings no áudio original postado no Soundcloud. Artistas como Leoni saíram em defesa do Claudio, condenando a divulgação da gravação, feita sem autorização dele e de Soraya Ravenle. “Por mais racista que seja a fala do diretor teatral Cláudio Botelho, é inaceitável e criminosa a divulgação de uma conversa particular captada no camarim à sua revelia. Parece que o direito à privacidade virou velharia do século XX. E mesmo que ele processe o criminoso, o dano à sua imagem é irreversível. Vivemos em tempos escuros de glorificação do dedo-duro!”, twittou o cantor.
Em entrevista ao jornal O Globo, ainda no domingo (20/3), com o circo pegando fogo, Claudio Botelho explicou que foi mal interpretado. “Usei a expressão ‘nêgo’, e não negro, como se diz no Rio, no sentido de ‘pessoa’. Tirar isso do contexto e falar que é racismo é absurdo. Eu fiz o musica do Milton Nascimento, fiz a ‘Ópera do Malandro’!”. Além de se dizer censurado, ele reiterou sua acusação de que o público foi facista: “Existe um ódio muito grande no ar. O Brasil está dividido. Onde já se viu tratar assim um artista só porque ele fez uma piada?”.
O fato é que a polêmica levou o Chico Buarque a suspender o direito de uso de suas canções para as peças do diretor. A assessoria de imprensa do cantor e compositor afirmou que ele “reagiu com espanto e muito desagrado à postura de Claudio”. Botelho lamenta a decisão e garante que continua fã. “Sou apaixonado por ele admiro o trabalho dele, e sempre o considerei um defensor da liberdade, acima de qualquer orientação política”.