“S’imbora, o Musical – A História de Wilson Simonal” aposta no formato de show encenado. Os números musicais – muitos e bem arquitetados – conduzem o espetáculo, mas não compõe diálogos ou estão na embocadura de qualquer personagem. Tudo acontece em apresentações em programas de TV e em shows que marcaram a trajetória do Wilson Simonal, como o Maracanãzinho nos anos 1960. O musical gira em torno da figura do protagonista Ícaro Silva (de “Elis, a Musical”), que faz um trabalho impressionante com canto, atuação e swing, com um desgaste de energia visível. Todas as músicas exigem muito vocalmente, e ele se entrega a cada uma delas em sua plenitude. Se é show, Ícaro segura a plateia do início ao fim, com maestria. É bonito testemunhar sua evolução como artista, desde a primeira vez que o vimos, na novela “Malhação” (2003).
A concepção de musical-show está impressa no cenário (de Hélio Eichbauer), que tem uma estrutura fixa igual a de muitas turnês de artistas atuais. Essa base se adequa a quase todas as necessidades da história e cresce com as projeções. O elenco interage com as imagens digitais como uma Beyoncé. Quando Ícaro canta “Carango”, acompanhado de uma banda ótima, ele se senta em uma cadeira e comanda o volante de um carro projetado em sua direção. É quase um videoclipe, e é inevitável se contagiar pela inteligência da coreografia (de Renato Vieira). A iluminação exerce a mesma função de showzão. Parece um reflexo do histórico da Planmusic, grande produtora de shows, que está entrando no circuito teatral com este trabalho.
Dividido em dois blocos, o musical biográfico narra a ascensão do artista na primeira parte e seu declínio na segunda. O carismático Thelmo Fernandes (de “O Estranho Caso do Cachorro Morto”) é uma espécie de narrador, na pele do apresentador de TV Carlos Imperial, que foi fundamental para o sucesso do Wilson Simonal. Tanto é que a história começa a partir do encontro dos dois. O texto é de Nelson Motta e Patrícia Andrade (dupla de “Elis, a Musical”), que deram maior importância aos pontos importantes da carreira do artista em vez de detalhes de sua vida pessoal. O primeiro ato, repleto de glória e alegria, dura mais tempo que o segundo, mais duro, dramático e triste. A prisão, a acusação de delator a serviço do DOPs e o ostracismo artístico estão lá, mas abordados com maior velocidade. Quem vai assistir em busca de uma resposta continua na dúvida: não fica explícito se Wilson foi culpado ou vítima. Dá para sair do teatro especulando…
Além do Ícaro, que se revela um verdadeiro showman, se destaca Victor Maia (de “Quase Normal”). Com brilho próprio, ele rouba a cena ao interpretar Eduardo Araujo com comicidade. O trio de imperialetes que fala tudo cantando, formado por Lívia Guerra (de “As Paparutas”), Ariane Souza (de “O Príncipe dos Porquês”) e Cássia Raquel (de “Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”), também chama a atenção em suas aparições e agrada a plateia com virtuosismos, compondo um elenco de primeira. Se o objetivo é fazer um grande show, missão cumprida.
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.
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SERVIÇO: qui a sáb, 20h; dom, 18h. R$ 80 (qui, sex e dom) e R$ 90 (sáb). Classificação: 12 anos. Até 12 de abril. Teatro Carlos Gomes – Praça Tiradentes, 19 – Centro. Tel: 2232-8701.