Aos 22 anos, Olivia vê sua vida mudar para sempre: torna-se mãe e seu primeiro filho nasce com a síndrome de Apert, que causa má formação do crânio, dos pés e das mãos, exigindo cuidados especiais. O bebê enfrenta uma série de cirurgias, antes mesmo de ter consciência de sua própria existência. Ali começava a luta dele, João, mas também dela, a mãe, que teria que enfrentar o preconceito de amigos, familiares e da sociedade, que não é nada inclusiva.

(Foto: Divulgação)
Olivia é a cantora Olivia Byington. A história está na autobiografia “O Que É Que Ele Tem”, adaptada para os palcos pela dramaturga Renata Mizrahi (de “Galápagos”), com direção de Fernando Philbert (de “O Escândalo Philippe Dussaert”). O livro foi publicado em 2016, quando João já estava com 35 anos: uma história de superação para toda a família. O espetáculo – um solo com a atriz Louise Cardoso (de “Velha É a Mãe”) – estreou neste mês no Rio de Janeiro. O resultado é desacertado, em vários níveis.
Primeiro, a adaptação de Mizhari não colabora, com rompantes bruscos de sentimentos e emoções, que inviabilizam qualquer verossimilhança. A maternidade-guerreira tem potencial para comover, mas o relato é apresentado de forma rasa e confusa. Mais de uma vez, a atriz dá uma frase triste e a seguinte feliz, com risos pouco críveis. A personagem não é bipolar, então o texto precisava encontrar uma maneira melhor de apresentar as nuances de sensações da protagonista. Falta coerência nas conexões. Em segundo lugar, há também uma dificuldade da direção para imprimir sentido e verdade ao texto problemático. O espetáculo é acelerado, como se Louise Cardoso estivesse em uma corrida contra o tempo, o que é um obstáculo para o envolvimento da plateia. Faltam silêncios (e, com todo respeito, ensaios). A atuação de Louise está muito distante do que uma atriz com sua bagagem pode oferecer. A direção também peca na utilização do espaço: a atriz dá voltas em torno do sofá como quem passeia no bosque.
O cenário conceitual de Natália Lana oferece boas oportunidades, como espaço para projeções. Em uma cena do espetáculo, é exibido um trecho de “Dumbo”, filme de animação que foi importante para Olivia colocar suas ideias no lugar. O figurino de Rita Murtinho permite que a personagem passeie por décadas com algo despojado e elegante. A trilha sonora de Marcelo Alonso Neves leva o espectador para dentro do universo de Olivia, com algumas de suas canções. A iluminação de Vilmar Olos, por fim, concentra-se na comunicação da atriz com o público, com bons resultados de sua parte. Uma pena que o espetáculo em si não funcione.
Por Leonardo Torres
Mestre em Artes da Cena e especialista em Jornalismo Cultural.
Ficha técnica
De Renata Mizrahi
Inspirado no livro ‘O Que É Que Ele Tem’, de Olivia Byington
Direção: Fernando Philbert
Cenário – Natália Lana
Figurino – Rita Murtinho
Iluminação – Vilmar Olos
Trilha Sonora – Marcelo Alonso Neves
Direção de movimento – Marcia Rubin
Projeções Cênicas e Videografismo – Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Preparação vocal – Luciana Oliveira
Visagismo – Rose Verçosa
Projeto Gráfico: Redondo Estratégia + Design
Ilustrações: Olivia Byington
Assessoria de comunicação: Factoria Comunicação
Mídias sociais: Theodora Duvivier
Fotos: Lenise Pinheiro
Assistente de direção: Luiz Octavio Moraes
Produção executiva e administração: Cristina Leite
Direção de produção: Alessandra Reis
Idealização: Flavio Marinho
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SERVIÇO: qui a sáb, 19h; dom, 18h. R$ 40. Até 16 de dezembro. Teatro SESI Centro – Avenida Graça Aranha, 1 – Centro. Tel: 2563-4163.