Os atores Thiago Marinho (de “Elis, a Musical”), Leila Savary (de “O Pena Carioca”) e Lucas Drummond (de “O Menino das Marchinhas – Braguinha Para Crianças”) fundaram a Nossa! Cia. de Atores e convidaram Daniel Herz (de “O Pena Carioca”) para a direção de sua primeira montagem, “Tudo o Que Há Flora”, em cartaz em sua temporada de estreia. É um espetáculo inédito, com a proposta de tratar de solidão de forma cômica, com ares de teatro do absurdo. Na história, a personagem do título é uma dona de casa prendada, maníaca por limpeza, à espera do marido para o almoço, enquanto, libidinosa, se reveza entre entreter e despistar dois amantes em seu apartamento. No desenrolar da trama, o espectador vai descobrindo que nada é só o que se apresenta. Ou não é justamente o que aparenta. O desfecho tende a ser surpreendente.
A dramaturgia é assinada por Luiza Prado, convidada pela companhia por seu trabalho como roteirista de duas temporadas do seriado “Vai Que Cola” (Multishow) e do curta-metragem “O Rio de Paixão” (2013). O texto, com a liberdade do non sense, tem problemas. O desejo de ser forçosamente cômico compromete a primeira parte da encenação, recheada de piadas e tiradas sucessivas que não funcionam. É ruim quando você percebe que era para rir, mas não sente vontade. A movimentação dos atores, com direção primorosa, resulta mais engraçada do que aquilo que é dito. Por outro lado, Luiza tem seu mérito pela estrutura da narrativa, com dois pontos de virada que seguram a atenção do público. Sem a pretensão do riso, o espetáculo talvez se saísse melhor.
Toda a história se passa em uma tarde no apartamento de Flora. O cenário é um personagem a mais e dá a cara do espetáculo. É certamente o ponto alto. Obra de Fernando Mello da Costa consiste em um elevado com um porão cheio de objetos embaixo e três buracos de acesso. Leila Savary, a Flora, é a única que não sai de cena, na sala. Os outros atores (há ainda Jorge Renato, de “Otelo da Mangueira”), sobem e caem nesses buracos: muito da dinâmica do espetáculo parte desse conceito. Criativo, funcional, original e bonito. A montagem não seria tão boa se o cenário fosse outro. A direção de Daniel Herz explora muito bem o espaço. Os figurinos, assinados por Antônio Guedes, são ludicamente coloridos, e a iluminação, de Aurélio de Simoni, marca bons momentos.
O elenco, bem dirigido, atua com segurança e simpatia. A Flora de Leila, entre o imoral e o amoral, é também cativante. É fácil gostar dela. A atriz conquista a plateia rapidamente com a personagem. Lucas e Thiago, também um tom para além do natural, colaboram no entendimento do que é o espetáculo, um tanto playground, no melhor dos sentidos. O elenco parece se divertir em cena, com profissionalismo, e isso passa para o espectador. Lucas Drummond está especialmente bem. A Nossa! Cia de Atores faz uma boa estreia.
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural e mestrando em Artes Cênicas.
Ficha técnica
Texto: Luiza Prado
Direção: Daniel Herz
Elenco: Leila Savary, Lucas Drummond e Thiago Marinho
Ator convidado: Jorge Renato
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Co-produção: Raposo Produções Artísticas
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Figurino: Antônio Guedes
Cenário: Fernando Mello da Costa
Iluminação: Aurélio de Simoni
Trilha Sonora: Pablo Paleologo
Supervisão de Movimento: Janice Botelho
Fotografia e Vídeo: Paulo Henrique Costa Blanca
Visagismo: Talita Bildeman
Idealização: Nossa! Cia. de Atores
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SERVIÇO: qui a dom, 19h30. R$ 20. 60 min. Classificação: 12 anos. Até 17 de julho. Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB – Teatro III – Rua Primeiro de Março, 66 – Centro. Tel: 3808-2020.