
O conto “Sapatos Vermelhos”, de Hans Christian Andersen (1805-1875), serve como inspiração para “Vermelha”, novo espetáculo da Cia. de Teatro Manual. Na peça, escrita por Cecilia Ripoll (de “Hamlet Candidato”), um garoto é explorado em uma fábrica de sapatos, sem ter dinheiro suficiente para comprar os próprios calçados. O ator Matheus Lima (de “Hominus Brasilis”), que dá vida ao monólogo, fica o tempo todo descalço e manuseia próteses de dois pés, explicitando a situação de seu personagem e de seus pares.

O texto trata de capitalismo e desigualdades sociais, dialogando diretamente com as políticas internacionais contemporâneas. Na história, o trabalhador descobre que o sapato que ele fabrica e não tem dinheiro para comprar em seu país é vendido muito mais barato no hemisfério norte. Trabalhadores passam, então, a viajar para comprar sapatos – o que indigna os privilegiados do norte, levando o presidente a decidir construir um muro. Qualquer semelhança não deve ser mera coincidência.
Detalhes assim tornam a peça interessante, mas não há muita narrativa. São pequenas pílulas e bastante floreio – reforçado pela pesquisa gestual da companhia. O espetáculo se inicia com uma longa cena em que o ator dá suas falas em inglês, espanhol e francês. Parece interminável. Aborrece de cara. A atuação de Matheus Lima não invoca o “menino” mencionado na sinopse da peça: você vê um adulto todo o tempo. A concepção do espetáculo também não o favorece. A peça se arrasta e a direção de Marcela Andrade (de “Aos Pássaros”) parece se dedicar a tornar tudo ainda mais enfadonho, em sua reconhecida busca por maneiras menos óbvias de conduzir a trama. Os caminhos escolhidos, porém, são cansativos e pouco atraentes.
A iluminação de Ana Luzia de Simoni tem momentos de destaque criativo, mas a penumbra predominante reforça a sonolência que o todo gera. O figurino de Camila Nhary e o visagismo de Mona Magalhães são pontos importantes dentro da montagem, mas o cenário de Elsa Romero é o mais curioso. Dali que o ator tira um mínimo de ação. A cenografia, de fato, ajuda a comunicar. Entretanto, a meu ver, “Vermelha” não acontece.
Por Leonardo Torres
Mestre em Artes da Cena e especialista em Jornalismo Cultural.
Direção: Marcela Andrade
Dramaturgia: Cecilia Ripoll
Atuação: Matheus Lima
Colaboração artística: Dio Cavalcanti e Helena Marques
Trilha Sonora Original: Roberto Souza
Vozes: Matheus Lima, Helena Marques, Marcela Andrade e Roberto Souza
Cenografia: Elsa Romero
Cenotécnico: Roberto Rodrigues
Figurino: Camila Nhary
Adereço – prótese: Mona Magalhães e Derô Martín
Visagismo: Mona Magalhães
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Design gráfico: Jaqueline Sampin
Fotos: Renato Mangolin
Operação de luz: João Gioia
Operação de som: Luiz Rolim Fadul
Assessoria de imprensa: Lyvia Rodrigues (Aquela que Divulga)
Assistente de produção: Gabrielly Vianna
Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda Pascoal (Pagu Produções Culturais)
Idealização: Helena Marques
Coordenação de projeto: Cia de Teatro Manual
Realização: Sesc Rio
_____SERVIÇO: sex a dom, 19h. R$ 30. 70 min. Classiicação: 12 anos. Até 2 de junho. Sesc Tijuca – Teatro II – Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca. Tel: 3238-2164.