
(Foto: Divulgação)
– Estou querendo investigar a escrita, essa possível dramaturgia, essa questão dramatúrgica ou literária. Como vou pensar dramaturgia, se já determino o que é dramaturgia? Eu não sei o que é dramaturgia. É uma arte que se reinventa muito, que se atualiza muito. Há tantos anos atrás, não se fazia tantos textos focados nos aspectos x e y, agora eles estão em voga. Pode ser que ano que vem, já não estejam. – pensa o dramaturgo, que concorre ao Prêmio Shell deste ano pelo texto de “Os Sonhadores”.
Há um porém, no entanto. Quando se ouve falar em um núcleo de dramaturgia, a primeira questão levantada é: isso faz sentido no teatro contemporâneo? O curso publica os três melhores textos produzidos pelos alunos, e escolhe o mais interessante para montá-lo. Totalmente em desacordo com o fim da centralidade da dramaturgia, identificada por Hans-Thies Lehmann, teórico do teatro pós-dramático, e por Josette Féral, que prefere o termo teatro performativo. Ambos apontam para o texto como mais um elemento na cena – e não mais o todo poderoso, determinador de todo o resto.
– Eu acho essa, sem dúvida, talvez a questão, né? De forma alguma, quando eu falo de onde eu venho, eu quero dizer que a dramaturgia está inevitavelmente atrelada à encenação. É óbvio que ela está, mas é óbvio que ela sobrevive fora disso, afinal de contas, é um exercício de escritura, de escritor. Costumo pensar, enquanto dramaturgo, que a dramaturgia se encerra no papel. – defende Diogo Liberano – Posso escrever uma obra dramatúrgica e ponto: ela está aqui, publicada ou não. Obviamente, não é um curso que se pretende de encenação de dramaturgias, mas eu acho fundamental que isso se coloque, quer seja numa conversa, numa leitura. Aí é preciso fazer essa rede, que o núcleo que já vem fazendo, e eu só pretendo seguir e buscar essas redes, para que o dramaturgo veja seu trabalho sendo mexido pelo outro, que é algo fundamental.

(Foto: Paula Kossatz)
Em 2016, o Núcleo de Dramaturgia do SESI apostou em escritas colaborativas: com os alunos trabalhando juntos, em três grupos. Para 2017, Liberano prefere investir em textos individuais – pela simples dedução de uma facilidade para quem está começando. “Eu imagino que, pelas minhas experiências como dramaturgo há dez anos, é mais difícil começar o exercício escrevendo junto do que sozinho”.
Ele, aliás, não se vê como um professor formador de novos dramaturgos – embora o núcleo use o slogan “a nova geração de autores”. Ele não acredita que exista um modelo aplicável a todos. Quer justamente pensar as variáveis, as dramaturgias em formação. “É menos formar autor e mais a formação da dramaturgia”, sintetiza, “fico me perguntando sobre os dramaturgos que a gente conhece no Rio de Janeiro: se a gente for avaliar como cada um se formou, a gente vai ter, pelo menos, um tipo de formação para cada um”. Por isso, ele quer ver o que cada aluno vai levar e acompanhar o desenvolvimento da turma a partir disso. As inscrições são gratuitas e vão até 16 de fevereiro. Os interessados devem enviar um texto inédito e autoral. Saiba mais aqui.