O perfil dos atores é bem explorado pela direção dos cineastas Rosane Svartman (de “Mais Uma Vez Amor”) e Lírio Ferreira (de “Sangue Azul”). A primeira cena é da Juliana, surpreendendo o público ao atuar da plateia. Mas a segunda, bem mais longa, já é do Sergio, que aparece só de cueca e arranca um suspiro atrás do outro dos espectadores. Isso se arrasta por todo o espetáculo: mesmo quando ele põe um roupão, não o fecha, deixando sempre o tronco à mostra. Para quem viu o filme, a mudança na abordagem é clara, porque é Sônia Braga quem aparece nua o tempo todo na versão cinematográfica. Mas o resultado é eficaz, porque a sensualidade do ator é um dos pontos fortes da montagem. Juliana até faz um topless, mas acontece durante uma troca de roupa, de maneira muito pouco atraente. A cena de sexo dos dois, no entanto, é uma das melhores de toda a peça, que erra na direção ao flertar com a comédia em um texto dramático.
A dramaturgia é muito limitada ao filme, com uma ou outra atualização de referências. O texto do Jabor, verdade seja dita, é bom. Há várias reflexões políticas, ainda muito atuais, e ele se propõe a brincar com o que é real e o que é falso. Na história, Paulo e Maria se conhecem pela Internet (no filme, era em um bar) e marcam um encontro na casa dele, que também é a sede de sua produtora. Os dois são desiludidos com o amor e fingem ser outras pessoas, para se tornarem mais interessantes (para o outro e para si mesmos). Cineasta falido, Paulo se passa por homem muito rico. Já Maria finge ser uma garota de programa chamada Mônica. Assim, eles acabam se apaixonando.
Na primeira parte do espetáculo, quando os personagens falseiam mais suas identidades, a interpretação de Sergio Marone faz jus ao filme no que concerne à canastrice. A química com Juliana também não flui – só depois da cena de sexo. Na segunda metade da peça, porém, como que mais lubrificados, as cenas são melhores. Curiosamente, é a parte em que o ator aparece mais vestido.
Quanto aos figurinos (assinados por Márcia Tacsir), impressiona a réplica do “vestido de baile” da protagonista, senão igual, muito próximo ao do filme. O cenário (de Fabiana Egejas) é limitado à sala do apartamento, com poucos objetos e paredes brancas. Seria feio, senão fossem as projeções que ocorrem frequentemente (como as gravações de Vera, a atriz que deu um pé na bunda do cineasta antes da história começar) e engrandecem as cenas. A cenografia acaba alcançando um resultado estético interessante, juntamente com o desenho de luz (de Rogério Emerson).
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.
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SERVIÇO: sex e sáb, 21h30; dom, 20h. R$ 60 (sex), R$ 70 (sáb e dom). 75 min. Classificação: 16 anos. Até 1º de março (recesso no fim de semana de Carnaval). Teatro Fashion Mall – Sala 2 – Estrada da Gávea 899, São Conrado, Shopping Fashion Mall – Tel: 2422 9800.