Como a TV, o teatro também tem faixas de horário. Há o nobre, por volta das 21h, o infantil, pela tarde, as matinês, ao pôr do sol… Mas alguns espetáculos tomam para si os chamados horários alternativos para conseguir entrar em cartaz. É peça de manhã, peça na hora do almoço, peça adulta à tarde e peça às 23h, depois que o espetáculo de maior destaque encerrou sua sessão no teatro. Com tantas produções disputando pauta, essa é uma saída das salas para atender a demanda criativa, e se consolida cada vez mais. Nesta semana, por exemplo, “Juliette Castigada (e Justine Recompensada)” estreia às 16h30 no Teatro Maison de France, no Centro.

Betina Pons, Alexandre Slaviero e Rosanne Mulholland: elenco de “Juliette Castigada…” (Foto: Divulgação)
Peça do dramaturgo Roberto Athayde (de “Reapareceu a Margarida”) com classificação etária de 12 anos, ela conta a história de duas irmãs francesas que dormiram durante 230 anos e acordaram em pleno século XXI, surpresas com o mundo atual. Segundo a diretora Paula Sandroni, que também está em cartaz como atriz em “Electra”, foi esse gancho da França que levou o espetáculo ao Maison de France. Lá, a disponibilidade só era à tarde – e de quarta a sexta-feira (os horários da noite estão ocupados com “Andança”, musical sobre a Beth Carvalho). A única exceção é quarta-feira, quando conseguirão fazer uma dobradinha e apresentar às 16h30 e também às 19h.
– Realmente, é uma novidade oferecer durante três dias nesse horário [vespertino]. No exterior, há sessões às 15h ou às 16h em dois dias da semana. Estamos apostando no público que diz que não vai ao teatro porque é de noite. No Rio, estamos focando nas pessoas que saem do trabalho no Centro às 15h ou 16h, nos aposentados, nos estudantes e nos profissionais que administram seu próprio tempo. Muita gente está adorando esse horário, pois será possível chegar cedo em casa. – ela conta ao Teatro em Cena.
Situação diferente vive a atriz e diretora Paula Cohen (de “Parlapatões Revistam”), que iniciou temporada aos sábados às 23h no Teatro do Leblon, com o monólogo autoral “As Lágrimas Quentes de Amor Que Só Meu Secador Sabe Enxugar”. Nesse caso, é para quem não quer sair cedo de casa. Para ela, no entanto, subir no palco tarde não é novidade. Em São Paulo, ela já chegou a ficar em cartaz à meia-noite, com público cativo, garante. Torcendo para que o horário não iniba ninguém, Paula ressalta que a peça é voltada para uma plateia diversificada. Em cena, ela dá vida a uma atriz em busca do personagem perfeito para ajudá-la a encontrar sua própria identidade após uma desilusão amorosa. Tudo é contado de maneira cômica, em tom de confissão, criando um vínculo com o espectador.
– É muito atual, contemporânea, uma reflexão muito divertida sobre os nossos tempos, através da vivência de uma mulher chamada Elvira. Não se acanhe com o horário, venha! Eu acho que o horário das 23h, para teatro, é uma ótima opção. Principalmente aos sábados! Os nossos dias são tão cheios de compromissos que no sábado é bom fazer tudo com calma. Dá para almoçar, ir à praia, voltar, tomar banho tranquilo, ir ao teatro e ainda sair com os amigos depois. – diz a atriz – Em São Paulo, é bastante comum uma rede de horários alternativos, como em várias cidades pelo mundo. E aqui tenho alguns amigos que fizeram espetáculos às 23h no mesmo teatro que o meu e me recomendaram. Acho que as pessoas estão curtindo essa opção!
De fato, é uma opção cada vez mais recorrente. Além dos “dias alternativos”, os horários também parecem ter vindo para ficar. Os teatros que trabalham com essa possibilidade não o usam de forma ocasional. Costuma ser uma faixa fixa, com uma temporada sucedendo a outra, sempre com algo em cartaz tarde. Tudo tem público.
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Juliette Castigada (e Justine Recompensada): qua, 16h30 e 19h; qui e sex, 16h30. 60 min. Classificação: 12 anos. De 7 de outubro até 17 de dezembro. Teatro Maison de France – Av. Presidente Antônio Carlos, 58 – Centro. Tel: 2544-2533.
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As Lágrimas Quentes de Amor Que Só Meu Secador Sabe Enxugar: sáb, 23h. R$ 40 a R$ 60. 70 min. Classificação: 14 anos. Até 24 de outubro. Teatro do Leblon – Sala Marília Pêra – Rua Conde de Bernadotte, 26 – Leblon. Tel: 2529-7700.