“Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”, com texto e direção de Luiz Antonio Rocha (de “A História do Homem que Ouve Mozart e a Moça do Lado que Escuta o Homem”), é apenas um dos espetáculos dedicados à pintora mexicana em cartaz na cidade. Sem a pretensão biográfica, ele se inspira no diário pessoal da artista plástica, valorizando mais os pensamentos e sentimentos dessa personagem icônica, em detrimento de fatos cronológicos. É uma proposta interessante, que, em tese, humaniza essa mulher vanguardista – com uma abordagem diferente dos livros de história da arte.
O espetáculo se inicia com uma boa apresentação do músico Pedro Silveira ao violão, no canto do palco. Quando a atriz Rose Germano (de “O Mambembe”), que assina o texto com o diretor, entra em cena, há uma surpresa. Ela não vem de Frida Kahlo, mas de outra personagem: Dolores Olmedo Patiño, amiga milionária do pintor Diego Rivera, responsável pela preservação e difusão da obra dele e sua esposa, Frida. É o primeiro equívoco da peça, com um desvio de caminho que não soma, embora bem intencionado. Tudo fica mais bonito quando Rose se despe diante da plateia e, nua e silenciosa, se transforma em Frida. A direção de movimento do ítalo-argentino Norberto Presta é de uma delicadeza e teatralidade ímpares. O diretor Luiz Antonio Rocha também se saiu bem na impressão de uma peça lenta, que se arrasta como a protagonista.
Na verdade, o monólogo cresce muito mais em seus momentos de silêncio, mostrando a decadência física da pintora, suas quedas, suas dores e seu esforço para se manter de pé. São todos muito bonitos. O texto, em si, não funciona em sua oralidade – como se tivesse sido escrito para ser lido, e não declamado. É fácil desprender a atenção do que a atriz está falando, tamanha sua monotonia. Não é envolvente. Isso pode ser um resquício da inspiração no diário da personagem, que não funcionou adaptado para o palco. Há ainda uma cena aleatória com projeção do trecho de um filme da dupla O Gordo e o Magro (ela era fã), que também não contribui.
Em cena, não se vê nenhuma das obras da artista. Há uma grande mesa de madeira, algumas cadeiras coloridas, e muitas molduras de quadros. É uma composição suficiente, já que o convite é ao mergulho na cabeça da Frida Kahlo – mais a mulher em deterioração do que a artista. O cenário é assinado por Eduardo Albini, que também cuidou dos figurinos (vários, com altos e baixos), que reproduzem os trajes típicos de tehuana, eternizados pela pintora em seus autorretratos.
O monólogo deve agradar aos interessados em arte e particularmente na artista, mas não tem apelo popular, por facilmente cair na classificação de tedioso. Ele foge das escolhas certeiras e aposta em riscos no escuro, muitas vezes errando ao longo de sua encenação até chegar a bons acertos. São 75 minutos que parecem durar mais tempo. Mas talvez essa seja a intenção.
SERVIÇO
Teatro Glaucio Gill – Praça Cardeal Arcoverde, s/nº – Copacabana. Tel.: 2332 7904.
Dias e horários: sexta a segunda às 20h.
Ingresso: R$ 30.
Duração: 75 min.
Classificação: 16 anos.
Até 2 de fevereiro.
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.