O ator Otávio Müller (de “Camila Baker”) quebra logo na primeira cena qualquer ideia pré-concebida quanto à peça “A Vida Sexual da Mulher Feia”, em cartaz no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea. A sinopse, o título e as fotos de divulgação indicam que ele interpreta a personagem-título, mas Otávio entra no teatro – não pelo palco, mas pela plateia, por trás dos espectadores – vestido dele mesmo. “A peça ainda não começou. Podem conversar”, ele diz. A abordagem surpreende e, no palco, o ator começa a montar a Maricleide, a feia em questão.
No monólogo, Otávio dá vida à mulher, mas também a todos os personagens que passam pela vida dela, desde seu nascimento. Ele faz o público ter empatia pela protagonista, e faz rir quando é homem, mulher, gay, velho… Autodirigindo-se, o ator se entrega como pode para contar a história, que carece de elementos cênicos (há apenas uma cadeira, uma arara com as roupas, e um painel onde vez ou outra aparecem imagens temáticas) e de qualquer iluminação menos óbvia. Sem pudores, ele veste figurinos (de Adriana Schmidt) que, por si só, já trazem alguma comicidade, e também se desveste. Sem se limitar à Maricleide, ele consegue se desvencilhar do trabalho feito em “Camila Baker”, comédia na qual também interpretava uma mulher.
O espetáculo é uma adaptação feita por Julia Spadaccini do livro homônimo de Claudia Tajes. Como o título aponta, acompanha a vida de uma mulher feia e suas dificuldades para dar o primeiro beijo, perder a virgindade e encontrar um grande amor. É uma história sobre autoestima. O texto é ágil, quase acelerado, e cumpre sua missão cômica, mas a peça se vale muito do artifício de ter um homem interpretando a personagem. Otávio Müller, especialmente, está afiado, vindo de uma temporada em São Paulo.
“A Vida Sexual da Mulher Feia” fica em cartaz no Teatro dos Quatro até o dia 27 de julho, com sessões de quinta a sábado às 21h30 e domingo às 20h. Os ingressos custam R$ 60 na quinta, R$ 70 na sexta e no domingo, e R$ 80 no sábado.
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.