Vindo do sucesso do personagem Téo Pereira na novela “Império”, o ator Paulo Betti volta aos palcos com “Autobiografia Autorizada”, um monólogo megalomaníaco. Descalço em cena, e desprovido de qualquer papel, ele abre sua vida para uma plateia de 199 lugares de quinta a domingo, contando causos da infância e da adolescência caipira em Sorocaba, onde foi criado. O “espetáculo” tem como ponto alto o estreitamento de sua figura com o público, mas tem mais erros do que acertos. É o tipo de projeto que já nasce errado. Não parece teatro, e sim um seminário de motivações estritamente egocêntricas e vaidosas.
Comemorando 40 anos de carreira – essa é a desculpa para o projeto –, Paulo Betti faz Paulo Betti em uma apresentação documental e arrastada. Alheio a qualquer encenação, o ator declama suas histórias pessoais, vai e volta no tempo, se perde no texto, pede ajuda a plateia para retomar, leva mais tempo do que deveria para contar uma ou outra passagem e, quando se dá conta, o monólogo está atrasado, e ele começa a falar correndo porque já deveria ter terminado. O cúmulo é quando ele mostra os diplomas que conquistou, incluindo um de datilografia. É inevitável se questionar: por que ele achou que alguém se interessaria por isso? Histórias sobre a carreira, não há.
O texto é do próprio ator, inspirado em suas anotações da adolescência e nos artigos assinados para o Jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba) por quase 30 anos. Como em um “Arquivo Confidencial”, Paulo Betti fala da mãe analfabeta, do pai esquizofrênico, da avó supersticiosa, da religiosidade da família, tudo com muita simplicidade, o que conquista alguns espectadores, mas tem muito pouco de teatral. Se ele interpreta um ou outro parente, não é diferente do que alguém faria compartilhando qualquer memória. Monólogos autobiográficos tendem a ser pedantes, em maior ou menor grau, e esse não foge à regra – como um parente chato que abre o álbum de fotografias para toda visita que chega. Ainda mais que Paulo se autodirige, em parceria com Rafael Ponzi (de “A Tartaruga de Darwin”), sem rumo.
O cenário é de Mana Bernardes e reproduz a fachada de uma casinha humilde, com frequentes projeções. Mas há elementos cênicos disfuncionais e excessivos, como um varal à esquerda. Durante a apresentação, o ator usa a maioria dos objetos espalhados pelo palco, então o espectador inevitavelmente cria uma expectativa pelo uso do varal cheio de roupas, e ela tarda a revelar-se decepcionante. Iluminação (de Dani Sanchez e Luiz Paulo Neném) é condizente, e a trilha sonora (de Pedro Bernardes) é nostálgica para os mais velhos.
Para quem busca um encontro com Paulo Betti, “Autobiografia Autorizada” satisfaz. Quem quer ver um espetáculo teatral, não o encontrará aqui.
Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.
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SERVIÇO: qui a dom, 19h. R$ 20. 90 min. Classificação: 12 anos. Até 10 de maio. Centro Cultural Correios – Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro. Tel: 2253-1580.