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Teatro em Cena

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Leonardo Torres é jornalista cultural e mestre em Artes da Cena. Está de olho na cena teatral carioca desde 2014.

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Suzana Pires, empoderada e ocupada: “sempre fiz o que quis”

16/01/2017 Leonardo Torres Entrevista
(Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Em cartaz no Teatro Fashion Mall com “De Perto Ela Não É Normal”, que existe há quase 11 anos, a atriz Suzana Pires quer resgatar nos espectadores a memória de suas essências. Em cena, ela vive Suzi, uma mulher que gostava de brincar de artista na infância e, por conta das pressões sociais para ter uma vida bem sucedida, se desvirtuou de seu caminho original e seguiu outro rumo. Sempre querendo “chegar lá”, nunca se sente realizada. Um retrato social. Afinal, esse “lá” existe? Suzana acredita que a maioria das pessoas passa a vida buscando essa meta inalcançável, esquecendo-se de seus verdadeiros sonhos. “Esse ‘lá’ não existe. O que existe é o aqui, o que está dentro da gente, porque a gente nasce perseguindo esse ‘lá’, porque tem que chegar ‘lá’, e na maior parte das vezes isso tira a gente do nosso caminho original. E a gente tem que lembrar desse caminho original para voltar”, pontua, em entrevista ao Teatro em Cena, na tarde de uma quarta-feira, dia em que se dedicava a escrever a novela “Sol Nascente”. Sim, você leu certo: ela está roteirizando uma novela no ar e se apresentando com o espetáculo, ao mesmo tempo. Workaholic? Prefere a expressão worklover.

Com 40 anos de idade, Suzana Pires não tem filhos nem marido – nem sente falta de maternidade ou casamento. Respira trabalho. A carreira é e sempre foi sua prioridade. Só “De Perto Ela Não É Normal” já foi visto por mais de 500 mil espectadores. Suzana é atriz, roteirista e produtora, além de pós-graduada em Arte e Filosofia. Suzi, a personagem da peça, tem a infância inspirada na de sua autora, mas o resto… “Eu sempre fiz o que quis”. Orgulha-se de ser uma mulher independente, empoderada, ocupada e realizada profissionalmente. Não cedeu, de forma alguma, ao padrão que a sociedade espera, estabelece e enquadra uma mulher. É supercontemporânea.

– A mulher não é criada para se arriscar. A gente é criada para ser perfeita. Então, as mulheres que não estão dentro do padrão de perfeição ou falam “vou fazer do jeito que eu quiser” ou vão no bonde, e aí perdeu o empoderamento. – avalia.

– Você já pensou em ir no bonde em algum momento? – o Teatro em Cena pergunta.

– Eu? – Suzana dá sua gargalhada contagiante, longa, como se a simples ideia fosse um absurdo. Essas gargalhadas pontuam toda a entrevista.

Suzana em cena (Foto: Reprodução)

Suzana em cena (Foto: Reprodução)

Uma busca rápida pelo nome da atriz no Google pinta um bom painel sobre ela. São frequentes os resultados associados ao feminismo, por exemplo. Ela já declarou que bancou um homem com quem morou junto: “sustentei em um período que foi necessário, mas esse período começou a se esticar muito e de marido virou filho, aí não deu”. Há também suas passagens por tapetes vermelhos, com bolsas de R$ 40 mil. “Amo comprar bolsa!”, explica. Notícias sobre a peça, sobre prêmios – ela foi eleita a melhor atriz do Los Angeles Brazilian Film Festival em 2014 com o filme “A Grande Vitória” – sobre seu trabalho de roteirista (altos e baixos de audiência) e até sobre vida íntima. “Estou uma temporada sem sexo porque escrever novela e estar em cartaz ao mesmo tempo é complicado. Mas, enfim, está valendo muito a pena”, declarou. Escolhas, sempre escolhas. Ela vai se identificar com o filme “La La Land” – se tiver tempo para vê-lo.

Suzana começou a estudar teatro no Tablado aos 15 anos. Aos 17, já estava no teatro profissional. Fez dois filmes sucessos de bilheteria – “Tropa de Elite” (2007) e “Loucas Pra Casar” (2015) – e uma série de novelas: “Caras & Bocas” (2009), “Araguaia” (2010), “Fina Estampa” (2011), “Gabriela” (2012), “Flor do Caribe” (2013) e “A Regra do Jogo” (2015). Na Globo, desfruta dos contratos de atriz e roteirista. Além de “Sol Nascente”, já escreveu “Flor do Caribe” e “Os Caras de Pau” para a emissora. Atualmente, além dos compromissos citados, elabora o roteiro da adaptação cinematográfica de “De Perto Ela Não É Normal”, que quer filmar ainda em 2017. Com o monólogo, fica em cartaz até março, com direção de Flávio Garcia da Rocha e co-produção de Léo Fuchs (de “Meu Passado Não Me Condena”).

(Foto: Yuri Sardenberg / Divulgação)

(Foto: Yuri Sardenberg / Divulgação)

Você está em cartaz no Teatro Fashion Mall com uma personagem que leva seu nome, e cuja infância é inspirada na sua própria. É uma exposição muito grande?
Eu acho que consegui não me deixar exposta, no sentido de uma exposição gratuita, porque isso me deixaria sim desconfortável. Somente a parte da infância é de verdade, de verdade mesmo. Eu era aquela criança, então todo o resto da peça é ficcional. Mas é meu depoimento sobre o que acredito na vida. Isso é expor, sim. O autor, no fim das contas, se expõe muito mais do que o autor, porque você escreve sobre o que pensa. Neste sentido, estou superexposta.

O espetáculo resgata a infância e os sonhos de criança. Como foi sua infância? Aqui no Rio mesmo?
Foi, foi. Sou carioca, minha família inteira também, e a gente tinha uma cara em Araruama, na Região dos Lagos. Eu passava as férias inteiras nessa casa, desde dezembro até março. Essa casa reunia toda a família: vários primos, muita tia, muita avó, e todo mundo cresceu junto nessa casa. Eu era uma criança já muito exibida. Eu gostava de fazer show em varanda, dublando a Madonna, imitando a Rita Lee, a Elba Ramalho… Eu não cantava, eu dublava, uma drag queen mirim. Era muito. Eu usava uma capa vermelha, em qualquer show, em qualquer número. Era meu figurino, e eu passava o dia inteiro com aquela capa vermelha. Bárbaro! Eu comecei a fazer isso na varanda da minha casa para a família. Depois, comecei a fazer na casa de todos os vizinhos. Eu tinha uma agenda de shows! Era uma doideira!

E cobrava?
Não, eu não cobrava! Eu queria ver aquela satisfação no rosto das pessoas, e eu tinha muito prazer em fazer. Até o momento em que passei de menina para começar a colocar corpo, e aí a coisa se quebrou. É sobre isso que falo na peça: quando é que essa infância se quebra, e a gente tem que ficar moldada por essas questões sociais todas.

Suzana na estreia da temporada no Teatro Fashion Mall: em cartaz até março (Foto: Reprodução / Instagram)

Suzana na estreia da temporada no Teatro Fashion Mall: em cartaz até março (Foto: Reprodução / Instagram)

Mas você começou a fazer teatro mais velha, né?
Foi. Eu comecei com 15, né. Mas eu não vou por esse caminho, não. Não falo sobre uma carreira artística. Eu saio da minha infância e falo de uma vida que pode ser a de qualquer pessoa. Estudar, trabalhar, arrumar um emprego, pagar as contas. Eu não conto minha carreira, porque minha carreira todo mundo sabe, né? Eu conto uma vida. Parto da infância e chego nela de volta. Mas é tudo ficcional. É engraçado porque, nesse meio, também tem histórias minhas, amigas nas quais me inspirei para as outras personagens, e isso é engraçado do público ficar tentando adivinhar.

Você é atriz e autora exclusiva da maior emissora do país, circula com bolsas de cinco dígitos…
Eu o quê?

Circula com bolsa de cinco dígitos.
Ah, compro bolsa! Uma loucura! (risos) Compro!

Enfim, rica, famosa, bem sucedida. Do que teve que abrir mão no caminho?
Muito da minha vida pessoal. Muito mesmo. Agora estou chegando a um ponto da minha vida em que acho que vou conseguir equilibrar mais o pessoal e o profissional. Mas isso foi uma escolha minha. Não é algo que eu me lamente, não. Não quis parar minha carreira para casar, ter filho. Não. Meu caminho foi se desenhando com a profissão sempre em primeiro lugar. Acho que agora, aos 40 e já tendo todas as bolsas que eu quero (risos)… Agora eu posso pensar numa vida pessoal um pouco mais animada. Isso é um pensamento que tem vindo para mim. Vamos dar mais tempo para namorar, né.

Bolsa de R$ 40 mil, item de colecionador, virou notícia: "foi uma luta para pagar" (Foto: Reprodução / Ego)

Bolsa de R$ 40 mil, item de colecionador, virou notícia: “foi uma luta para pagar” (Foto: Reprodução / Ego)

Eu ia perguntar isso, porque entendo que você é workaholic, certo?
Eu sou worklover! Eu amo o que eu faço. Amo, assim, num grau, que nem sei o que te dizer. Eu sou louca por isso. Eu não tenho férias porque minha cabeça não para.

Sua profissão é sua prioridade, né?
Sempre foi. Minha família, meus pais, ninguém nunca me cobrou nada, porque sempre me conheceram do jeito que eu sou. Eu, como mulher mesmo, nunca me senti cobrada nem por mim mesma. Tem essa viagem por aí pelo mundo, né. Eu fiz esse caminho e estou achando o máximo. Acho muito legal tudo que veio acontecendo, muitas coisas inesperadas e muito trabalho, sabe? Pé de boi! Aquela que acorda e trabalha! (risos)

Você acorda cedo?
Acordo cedo e trabalho muito. Escrevo demais. Agora é um período que estou aqui na frente do computador desde 10h da manhã, aí atendo imprensa, atendo a produção da novela, resolvo o que tenho que resolver, então é um dia agitado. Eu devo ir até umas 20h, aí vou jantar fora ou ficar em casa, enfim, os meus dias tem sido assim.

Cena de "De Perto Ela Não É Normal" (Foto: Divulgação)

Cena de “De Perto Ela Não É Normal” (Foto: Divulgação)

Seu monólogo existe há dez anos, e vai fazer onze em 2017. Como é sua relação com seu próprio texto, quando para um tempo e retoma o projeto?
Eu reescrevo algumas partes. Mudo algumas coisas que eu falo. É muito atual. De semana para semana, às vezes mudo piada. Ou algo que eu queira explicar melhor, que eu mesma tenha entendido melhor na vida. Vou te dar um exemplo: teve um momento da minha vida que eu entendi que ‘chegar lá’ nada mais é do que pagar a conta do cartão de crédito inteira. Quando você deixa de pagar o mínimo. (risos) Meu amor, aí você chegou lá. (risos) Eu tive que colocar isso na peça, sabe? Chegar lá é isso! (risos) O povo está aí cheio de cartão de crédito sem pagar.

É verdade que no fim da peça você fica tirando foto com todo mundo?
Tiro, tiro! Superverdade! Fico uma hora e meia lá.

Mas você já não está exausta?
Ai, tô, mas é tão legal, cara! Porque as pessoas saem muito pra cima. A maior parte das pessoas fala “estou saindo com outro astral, um astral positivo para a vida”. Gosto de estar com as pessoas. A peça tem uma pegada muito legal de humor e de esperança: “gente, está na nossa mão fazer uma coisa legal”.

Quem que fica mais para falar com você: os homens ou as mulheres?
Os dois. E tem uma coisa muito legal que acontece da mulher pedir para eu tirar foto com o marido. Eu falo “você já é minha amiga, porque para pedir para tirar foto com seu marido, porque ele é meu fã… você é incrível”.

Os homens tem mais vergonha, né?
Morrem de vergonha! Eu acho legal, porque aí vem a esposa tirar foto do marido comigo. (risos)

(Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Quando você começou a desenvolver seu lado dramaturga e roteirista?
Também com 15 anos, quando comecei a atuar no Tablado. Já escrevia para meus colegas, mas morria de vergonha. Achava tudo um horror. Com 19, fui fazer faculdade de Filosofia. Já trabalhava muito como atriz, e fui fazer filosofia, que já tinha tido na escola e gostado muito. Vi que seria um caminho bom para entender a origem da dramaturgia, e ter um conhecimento que ninguém me tiraria. Sabe aquela coisa de qual vai ser a minha segurança? Não, não vou fazer economia, não vou fazer direito. Vou saber de alguma coisa muito bem sabida. E essa coisa é a dramaturgia (risos).

Aí que você tomou coragem?
Isso! Depois que me formei, comecei a escrever para teatro, comecei a colocar peça minha em cartaz e depois fui trabalhar na Conspiração como roteirista de televisão. Depois estreei a peça, depois a Globo me contratou, e fiquei escrevendo sem parar.

Quanto tempo levou para escrever essa peça?
Cara, uma semana. Muito louco. Foi muito rápido. Baixou aqui.

Você tem outras peças escritas e ainda não montadas?
Tenho, tenho. Tenho umas que eu nem gostaria que fossem montadas, porque não acredito mais. Mas tem umas duas que tem produtor lendo. Eu tenho mais cuidado com meus textos, sobre quem vai fazer, tenho um pouco de ‘ai, será? Será que falo disso agora no teatro?’ Você faz a pessoa sair de sua casa para ficar ouvindo uma história. Tem dois textos que estão sendo lidos e podem ser montados nos próximos anos. Vou deixar o caminho livre e não vou botar tensão nisso.

Manhãs e tardes de escrita (Foto: Reprodução)

Manhãs e tardes de escrita (Foto: Reprodução)

Você está escrevendo a novela das 18h. Todo autor diz que quando se escreve uma novela, não se faz mais nada, porque não dá tempo. Tipo “me encontre quando acabar a novela”. E você ainda está fazendo a peça! Como é isso?
Cara, não! Eu tô! O Silvio de Abreu acabou de me perguntar isso: “como assim você está fazendo uma peça junto com a novela?”. Mas, cara, é isso que me equilibra. Eu não nasci somente roteirista. Eu nasci assim, com essa energia muito grande. A gente tem que se conhecer, né? Se eu estivesse só escrevendo a novela e não fazendo mais nada, estaria achando tudo um tédio. Como estou escrevendo a novela, e tenho que fazer a peça, aí tenho o retorno do público, converso com as pessoas… estou contando aquela história todo fim de semana. Estou viajando com a peça o ano inteiro. Isso é como se eu tivesse recebendo uma recarga de energia.

Mas como você concilia? Não escreve a novela no fim de semana?
No fim de semana? Escrevo um pouquinho, sim. Até quando estou viajando. Quando estou viajando, é assim: chego à cidade, vou fazer o jornal do meio-dia, aí vou para o hotel, minha produtora leva o almoço pra mim, aí fico escrevendo. Eu tenho um ofício, sabe? Vivo muito esse ofício. Por isso que estou te falando: minha vida pessoal… Pode ser que tenha esse ano. Depois que passar tudo isso, pode ser que eu comece a equilibrar. Por enquanto, meu tempo é para isso, meu trabalho.

Você faz análise, alguma coisa assim?
Ihhhh, tudo! Desde os 19 anos. (risos)

Perguntei, porque a emergência de uma vida pessoal é um conselho quando a pessoa é workaholic.
Eu acho que é uma questão contemporânea, né? Estamos muito mergulhados nas nossas paixões de expressão né. A gente tem que abrir um tempo para o tempo do amor, o tempo de uma criança, e isso é outra rotação de vida. Fica difícil, né.

A próxima pergunta é sobre isso: você declarou, há algum tempo, que pensava em congelar os óvulos. Fez isso?
Cara, nem fiz. Minha médica falou que não precisava ainda. E eu também desisti de fazer, porque comecei a achar muito estranho ter um óvulo congelado… Fui ver todo o processo como era, e achei muito estranho. Tenho amigas que estão fazendo. Mas se passar o tempo, e biologicamente eu não puder ter mais, considero a opção de adotar. Mas isso se eu tiver vontade de ser mãe.

Isso é uma questão para você? Tem esse sonho da maternidade?
Não. Ainda não. Mas você pode ter certeza que, se eu tiver, vou realizar, de alguma forma. A maternidade é uma coisa que vem e te mobiliza muito mais do que qualquer outra, quando vem.

Vestida de noiva, só para personagens: com Ingrid Guimarães e Tatá Werneck no filme "Loucas Pra Casar" (Foto: Divulgação)

Vestida de noiva, só para personagens: com Ingrid Guimarães e Tatá Werneck no filme “Loucas Pra Casar” (Foto: Divulgação)

E casar?
Casar, casar, casar?

Esse sonho tradicional de se casar.
(emite sons estranhos) Eu já morei junto, ah…

Eu li que você já sustentou um cara e se cansou disso.
Ai, meu Deus! Já me deparei com várias coisas. Não tenho problemas em sair do convencional. Mas já morei junto legal, já morei junto de outra forma. Agora o que eu quero é um amor mais maduro. Vamos ver o que vem. Mas esse sonho do casamento tradicional, eu nunca tive também.

Seus sonhos ainda são profissionais, né?
Muito, muito, muito profissionais. Mas você pode ter certeza que, se eu tiver 70 anos e achar o cara, eu vou me casar. Eu não tô nem aí.

Agora quais são seus sonhos profissionais?
2017 é um ano que eu preciso tirar férias. Meu maior sonho profissional agora é ter férias. Eu vou encerrar a peça e “Sol Nascente” no mesmo dia, 12 de março. Depois, faço uma temporada em São Paulo, eu acho. E eu vou fazer o filme da peça neste ano, né. Então, ainda vou fazer um filme!

Quem vai dirigir?
Isso que eu ainda não fechei. Estou conversando com meu produtor. Estamos na terceira versão do roteiro já. É assim mesmo. Demora.

Já pode falar algo sobre elenco?
Não, ainda nem temos. Estou bem focada nesse roteiro ficar muito bom. Tenho muita coisa para fazer neste ano, mas num outro ritmo. E preciso tirar férias. Quero uma praia, ficar na cervejinha, huummm, que delícia (risos).

(Foto: Divulgação / Globo)

(Foto: Divulgação / Globo)

Quero resgatar um pouco de sua trajetória no teatro. Quais trabalhos foram mais especiais para você?
Eu fiz uma peça do Caio Fernando Abreu, quando ele era vivo. A direção era do Gilberto Gawronski. Ele foi ver. Eu tinha 17 anos. Ele veio para o Rio, estava bem doente já, mas ainda estava “bem”. Ele veio um pouco na turnê com a gente e depois faleceu. Mas foi incrível a convivência com ele. Poder conversar com ele sobre o conto que eu fazia na peça. Aquele humor dele… Foi incrível! Eu era muito menina, e estava com o Caio Fernando Abreu, e já gostava da literatura dele. Também teve outra peça bem legal que foi “Bodas de Sangue”, do [Federico García ] Lorca. Eu adorei fazer aquela personagem, mas parei por ali com esses dramalhões no teatro. Saía com muita dor de cabeça.

Ah, é?
Eu saía pesada, cara! Não, não! Eu quero leveza.

Prefere comédia no teatro, então.
Ai, eu prefiro! Na vida! Leve! Era incrível, eu amei fazer, mas não é um projeto que eu ia me levantar agora, neste momento atual do mundo, e falar “vou montar uma tragédia”. Aí complica. (pausa) E teve uma outra peça também, que foi o único infantil que fiz, um supermusical, que eu fazia a madrasta da Branca de Neve. A Bruna Marquezine tinha oito anos e fez logo depois daquela novela que ela apareceu, a Salete. Sempre talentosíssima. Foi muito legal, porque foi um sucessão ali no Teatro do Leblon. Era muito legal: eu, vilãzona, as crianças morriam de medo!

Você fez Tablado e estudou com Camilla Amado e Fátima Toledo, que tem fama de braba. Qual foi o momento mais difícil dos estudos e início da carreira? Ou desafios que te marcaram.
Eu acho que, de método, fui cria da Camilla Amado. É uma coach que começa muito pelo texto. Por mais que eu tenha estudado com a Fátima, com Eduardo Wotzik, com vários coachs e treinadores de atuação, eu permanecei muito na linha da Camilla Amado, que é partir do texto, depois para a coisa física, inclusive se libertar do texto para retornar a ele depois. Um ciclo. O ciclo da Fátima, que fui experimentar e fiz alguns trabalhos nesse método, eu acho bacana. Mas acho que, se você não é ator profissional, tem que ter cuidado, porque é muito intenso. Se você é um ator profissional, sabe lidar com aquela intensidade toda, mas ainda fica muito mexido. Mas eu acho que, quando não é ator, tem que redobrar o cuidado. Mas a Fátima é brilhante.

Suzana Pires defende o empoderamento feminino (Foto: Divulgação)

Suzana Pires defende o empoderamento feminino (Foto: Divulgação)

Mudando de assunto, vejo você dizer com muita clareza que é feminista. Qual luta feminista que mais te motiva atualmente?
O empoderamento, né, cara. Essa palavra está virando “eu te amo”, qualquer coisa, e o empoderamento feminino – claro que tem vários lados e várias vertentes – mas o que me chama muito atenção é que, se uma mulher não é responsável por seu próprio sustento, não adianta nada mais. Meu foco é no empreendedorismo feminino. Falo muito disso nas redes sociais, aponto muito caminho. Você tem que ser a responsável por pagar suas contas. Mesmo que você não queira – “ah, vivo uma relação que não preciso disso”, “ah, vivo de outra maneira…” – mas você tem que ser responsável por sua sobrevivência financeira neste mundo. Se você não tiver isso, não adianta achar que é empoderada, porque não é. Começa daí. A mulher tem que estar percebendo isso.

Quando você despertou para isso?
Minha mãe sempre diz isso: “você nunca precisou se rebelar com nada, você sempre fez o que quis”. (risos) Eu nunca me rebelei. Eu falava: não, isso aqui não é para mim. Aquilo ali é. Aquilo ali, não. Prestando atenção no coletivo que estava envolvida. Mas isso é um jeito de ser, né? Minha irmã também é assim, e é casada, tem filho, escolheu fazer a vida dela do jeito que ELA QUIS. É isso: você pode escolher fazer tudo que está nos moldes, mas do jeito que você quer, do jeito que você definiu. Empoderamento começa muito na noção de que, para ganhar dinheiro, tem que se arriscar. Você sabe disso. Mas você sabe disso, porque desde criança foi criado assim, sendo homem. Uma menina não é criada assim. É criada para fazer penteado. E aí? Então, é legal a mulher ter símbolos de poder, entrar numa loja e comprar uma bolsa cara, não importa! Se você tem como pagar e não é dinheiro desviado, óbvio… Isso que dá raiva: as cafonas desviam dinheiro e não sabem nem comprar bolsa, né. (risos) Já começa por aí. Bom, só um parêntese. Aí compra dez de cores diferentes. Ai, amiga, não faz isso, não: compra uma, caceta! (risos) Isso é empoderamento, pra mim. Eu poderia ficar aqui falando por duas horas, mas acho que consegui demonstrar o que acho.

Eu vi você falando que acredita que intimida um pouco os homens. Isso é uma questão para você?
Cara, isso é um pouco, sabia? Eu às vezes tenho que abrir um pouco a guarda. Tem uns homens que conseguem quebrar isso e ver minha fragilidade. Eu não faço minha fragilidade de liquidação. Minha fragilidade é minha. Para alguém vê-la e entender o que se passa aqui de uma maneira mais ampla, são minhas amigas próximas, é o cara que eu amo, porque o amor traz essa fragilidade. Porque aí você se mostra como um todo. Eu acho que me previno porque quero coisas especiais. E eu vivi coisas especiais até agora. Mesmo o cara que eu sustentei foi especialíssimo. (pausa) Achei uma loucura eu falar aquilo na entrevista, mas quando vi já tinha falado! (risos)

E é das primeiras coisas que aparecem quando se pesquisa sobre você no Google.
Gente, mas aquilo foi uma loucura no site da Vogue! As meninas ligavam e falavam “caraca, é o maior acesso!” (risos) Mas falei mesmo, porque estava a fim de falar. Até histórias que não são “ooooh” são especiais, porque aconteceram trocas especiais. Eu gosto. Quando vejo que é um homem… (pausa) ai, sabe? Aí eu me fecho mesmo, e aí é um problema. Não rola.

(Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

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SERVIÇO: sáb, 21h; dom, 20h. R$ 80. 70 min. Classificação: 12 anos. De 7 janeiro até 12 de março. Teatro Fashion Mall – Shopping Fashion Mall – Estrada da Gávea, 899 – São Conrado. Tel: 2422-9800.

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